Organização de excursão e análises sobre Turismo Religioso em Aparecida (SP)

Gostaria de mostrar por meio desse post como a organização de uma  excursão (viagem de apenas um dia - o famoso "bate e volta") não é tão simples como parece ...  Claro, para quem faz com responsabilidade e capricho.
Ao abordar minha experiência na estruturação de uma viagem para Aparecida (SP) e não Aparecida do Norte, como muitos ainda falam, vou comentar meu ponto de vista sobre Turismo Religioso no local.
 
Como Coordenadora da Catequese da Paróquia Santo Agostinho, foi sugerido que se fizesse uma peregrinação à cidade de Aparecida, que consiste no maior centro religioso católico do País e o 2º maior do mundo  (perdendo apenas para o Vaticano) com pais e crianças da Igreja.
Já organizei muitos outros roteiros pedagógicos e de lazer, mas neste formato foi a primeira vez.

 
A princípio escolhemos uma data mais adequada para as catequistas e os Freis acompanhantes e efetuei uma cotação de empresa de ônibus. Os valores eram muito similares e resolvi me decidir por uma organização que fosse indicada. Isso em qualquer área é essencial, mas no Turismo mais ainda. Optei pela Sanplay Turismo, com um valor de R$ 1.600,00 pelo veículo de 46 assentos, mas não fiquei satisfeita com o atendimento pelo e-mail: um pouco demorado e informal, com várias pessoas tratando do processo, sem garantia de voucher. Depois comento como foi no dia da viagem. Portanto, já "desrecomendo": não fechem negócios com esta empresa !
 
Quando se faz uma reserva de transporte há prazo para sinalização. No caso de rodoviário é muito mais flexível que os demais modais ou meios de transporte. No entanto, é preciso saber se haverá um número mínimo de passageiros que garanta a viabilidade econômica da operação. Neste momento não tínhamos certeza se haveria quórum suficiente para lotar todos os lugares.
 
Após o envio de bilhetes para os pais rapidamente a lista de passageiros foi sendo preenchida. Porém, sempre há desistências, encaixes e muitas indecisões.
 
Uma questão fundamental refere-se  á coleta de todos os dados: nome completo, números de RG e CPF, data de nascimento, telefone de contato (fixo ou outro celular que não fosse do pax). Parece algo muito normal, todavia a maioria não concede todas as informações e nem de uma única vez. São vários e-mails, mensagens de WhatsApps, ligações e até deslocamento na casa das pessoas. Exagero ? Não ! Isto significa segurança. Caso o ônibus seja parado por algum agente  policial no caminho e não se possua esta lista obrigatória, pode-se ter consequências.

 
 
Além disso, contratei um seguro de viagem, que pode se configurar como algo supérfluo. Até que tudo corra bem, ótimo. Porém, se algo como um acidente ocorrer ? O seguro de viagem vai além do que é proposto pelo ônibus e inclui outras coberturas, como perda de bagagem e internação hospitalar. Mesmo no caso de ser apenas um dia, as seguradoras emitem as apólices para um mínimo de 3 dias e exigem todas as informações completas e corretas. Consegui pelo custo neto (sem nenhuma comissão) pelo valor de R$ 3,50 por dia da Assist - Card. 

 
 
Outra preocupação era de não dispersar o grupo, composto por muitas crianças (sendo 2 desacompanhadas e com as devidas autorizações dos pais, sob nossa responsabilidade). Sendo assim, procurei pesquisar um restaurante com comida self service com preço acessível. Verifiquei em várias páginas do Google e no TripAdvisor. O que consegui com valor razoável foi de R$ 15 por pessoa, incluindo a sobremesa na Pousada e Restaurante Nacional, que pelo que constava e informavam era de fácil acesso. Só que não !
 
Tratava-se de uma viagem de baixo custo e beneficente, sendo 50% paga pelo pax e a outra metade subsidiada pela Paróquia e, sendo assim, o valor ficou muito interessante para os participantes. Resultou em um valor de R$ 30 para cada viajante (adulto ou criança) e R$ 30,50 para a Paróquia, totalizando R$ 60,50 por pessoa, incluindo transporte, seguro viagem e alimentação (almoço sem bebidas).
 
Marcamos a apresentação para 6h45 para saída as 7 hs em frente à Paróquia. Antes desse horário,  já recebi uma mensagem da empresa de ônibus que o mesmo não conseguia entrar na praça onde a Igreja está situada. Chegamos no local as 6h30 com muitas sacolas de lanches comunitários (inclusive pedaços de bolos em saquinhos herméticos individuais e com etiquetas informativas dos diferentes sabores), garrafas de água, chá e café, sucos, guardanapos, papel higiênico, Kits de limpeza e de primeiros socorros, listas de dados, comprovantes de depósitos, letras de músicas, loteria cultural (com perguntas sobre Nossa Senhora Aparecida e Santo Agostinho).
 
Alguns passageiros desistiram na hora e  não nos avisaram. Como ficamos sabendo ao ligar para os mesmos no momento do embarque, o que nos deixou atordoadas, acabamos  cometendo o grave erro de não conferir a lista e autorizar a partida do ônibus. 
 
Tivemos o desprazer de contar com um motorista de mal humor, que destratou diversos passageiros, inclusive a mim. Um absurdo que em pleno momento de crise alguém não valorize seu emprego e desconte sua insatisfação nos demais.      Imaginem como ele ficou quando solicitei que retornássemos ao local de partida porque percebemos quase na saída de São Paulo que uma menina não estava presente, chegou atrasada e estava nos aguardando na origem ?   
 
No trajeto o mesmo ou colocava a temperatura alta ou baixa demais do ar condicionado, não nos informou que havia um microfone (alegou no retorno que não funcionava ...) e que faria uma parada antes da chegada ao destino.
 
O percurso de 2 horas e meia aproximadamente transcorreu da melhor maneira possível, com algumas orações, explicações extremamente didáticas e interessantes dos jovens freis acompanhantes, músicas e brincadeiras, além de muitos alimentos e bebidas. 




Próxima da chegada já é possível avistar diversos peregrinos caminhando sozinhos ou em grupos à beira da estrada, normalmente pedindo ou agradecendo uma graça. Foi quando o motorista resolveu fazer uma parada sem nos avisar.

Conseguimos chegar um pouco atrasados para a missa das 10h30. Após o seu término, visitamos alguns espaços internos e a "Porta Santa", que é aberta apenas nos Anos Jubilares, ou seja, nos anos em que há perdão dos pecados, como este "Ano da Misericórdia".  




Há diversas missas aos finais de semana, mas a Basílica de Aparecida, apesar de imensa, não possui assentos suficientes nem papel para que todos acompanhem o ritual. Há alguns televisores, mas seriam necessários telões e mais bancos, na minha opinião. Muitas pessoas ficam sentadas e até deitadas no chão ... É difícil a localização do altar.

Fizemos a visita à imagem encontrada há 299 anos por pescadores no Rio Itaguaçu, atual Paraíba, que naturalmente estava com uma imensa fila, como era de se esperar. A imagem encontra-se  bem protegida e, embora pequenina, é muito forte. Há uma passarela com algumas separações dos fieis, para que todos passem, orem, contemplem e tirem fotos por alguns momentos.



O local estava lotado. Imaginem no dia 12 de outubro, que é o Dia da "Padroeira do Brasil". No próximo ano serão  300 anos da aparição da imagem ... Espera-se um fluxo de visitantes ainda maior.

Logo no início perdemos alguns componentes do grupo. Não é fácil agrupar todos em um lugar imenso, mesmo com número de WhatsApp. Alguns não queriam subir a passarela que liga o Santuário atual até a Igreja antiga e isso dificultou nosso reencontro.

Procurei reservar um restaurante para todas as pessoas ficassem juntas e conseguir um bom custo x benefício. Porém, nem todos conseguiam acessar facilmente o mesmo. O nome do estabelecimento era parecido com outro e as informações eram controversas. Talvez a opção de liberdade de escolha do estabelecimento na Praça de Alimentação fosse mais adequado. 

Após o almoço, cada um ficou com tempo livre, o que é fundamental na organização de um roteiro turístico. Alguns foram às compras e outro grupo foi desfrutar do Bondinho (diferente do Teleférico, que possui cadeira e é aberto, também existente no local). Trata-se de um espaço fechado com capacidade para até 6 pessoas que leva até o Mirante. Custa R$ 24 por adulto  sem a parada no Mirante (com acesso a elevadores para uma vista panorâmica) e R$ 28 com o Mirante. Crianças pagam metade deste preço. O problema foi que nos abordaram como grupo e informaram que teríamos descontos. Porém, foi tanta confusão que resolvemos pagar separadamente com as tarifas normais. Neste quesito, deveriam ter valores diferenciados e já especificados para grupos em uma tabela, na minha opinião, a fim de facilitar o processo. O passeio foi muito divertido e, embora bastante seguro, muitos ficam receosos com a altura, principalmente se o mesmo resolve parar por alguns segundos (como ocorreu conosco ...). Tudo é muito organizado e os sanitários limpos. Vale a pena fazer este passeio. A vista é maravilhosa.




 


 
 
 
Após isso, passamos na "Sala das Promessas", que está bem estruturada, separada por temas. Trata-se de um espaço reservado para as "provas" deixadas por fieis que tiveram suas graças alcançadas. Desta forma, existe um setor de "casamentos" com convites, fotos, vestidos de noiva e até bonequinhos de bolo, além de outros símbolos. Na parte musical encontram-se instrumentos musicais, discos e CDs autografados. Já no segmento dedicado aos esportes pode-se encontrar camisas e bandeiras de times. Há diversas temáticas e o teto está repleto de fotos. Impressionantes são as peças confeccionadas em cera como partes do corpo. Tratam-se dos denominados "ex votos", que materializam as bênçãos recebidas.   

Por fim, passamos na loja oficial, que possui apenas artigos religiosos e de qualidade a preços diversos. Voltei carregada de brincos, colares, chaveiros, velas, incensos e outras lembranças. 

Não se pode deixar de levar o "Pão da Mãe" na padaria da Basílica, que é realmente uma delícia ...

Não se consegue ver tudo em um único dia. Há  ainda o Museu de Cera e o Museu de Nossa Senhora, além de outros espaços para visitação.

As 18 horas quando se ouve a Ave Maria de Gounod (momento emocionante) indica-se que está encerrado o funcionamento do espaço.


   
Saímos do local as 18h30 com um belo por do sol e no trajeto de volta a grande maioria dos passageiros dormiu de tanto cansaço. Porém, a satisfação foi geral.





O que acontece, sob minha ótica, na cidade de Aparecida é nem todos os visitantes são católicos e alguns são apenas turistas. Neste sentido, observa-se roupas e comportamentos não muito apropriados ou pessoas que não têm a mínima ideia do que está ocorrendo nas missas .
 
Sou católica de formação e prática e penso que existe falta de respeito e banalização de alguns lugares sagrados e modificação do objetivo da viagem e das estruturas para atração de maior número de visitantes e lucro dos moradores.  Trata-se de uma situação complicada e polêmica, pois há interesses de todos os lados.
 
A cidade de Aparecida é um local imenso, com muitos atrativos religiosos, de lazer e compras, para todos os gostos e bolsos, visitantes de todas as faixas etárias e perfis. Como os interesses são diversos e nem todos são católicos praticantes de fato a situação se torna complexa. Aliada ao calor exaustivo, às caminhadas e excesso de visitantes, torna-se difícil manter o grupo coeso e se vivenciar um estado harmônico de espiritualidade.

Caminhando pela cidade observa-se uma infinidade de lojas e barracas com vendas de artigos religiosos e de diversos outros tipos, sem nenhuma relação com a religião. Pensa na 25 de março ? Aquilo é 2 vezes mais ... Uma loucura !

Além disso há também  um Parque de Diversões, que considero que não possui nenhuma relação com Turismo  Religioso. Se eu tivesse levado meu filho de 5 anos não teria feito nem metade da programação planejada ... Acho que definitivamente não combina com o objetivo do destino.
  
Fazia muitos anos que eu não visitava o destino e realmente fiquei surpresa com suas mudanças. Nada como viver a experiência in loco. Claro que se eu tivesse ido com minha família ou amigos seria bem diferente. Porém, não teria conhecido melhor as pessoas, tido momentos tão tensos, mas outros super divertidos e que integraram o grupo.  Para alguns foi a primeira vez de muitas e outros sempre retornam periodicamente ... Portanto, apesar de alguns percalços, valeu o esforço. Até a próxima !



 
 
 
 
 

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